quarta-feira, junho 08, 2005

Teste de Fidelidade

9. GUARDAR CASTIDADE NOS PENSAMENTOS E NOS DESEJOS

Eis que ela aparece... O desespero da espera que o consumia e angustiava extinguiu-se nesse instante. O sorriso dele iluminou-se, a satisfação preencheu todo o seu corpo; ela não era linda como uma deusa grega ou romana, mas ficava perto - se bem que, nos dias de hoje, graças à maquilhagem, qualquer mulher vulgar se pode tornar numa modelo (o que prova que os estereotipos nem sempre estão certos: os homens são melhores cozinheiros e as mulheres melhores ilusionistas!). Contudo, o motivo que lhe fazia desejar essa mulher nem sequer era a beleza; ela parecia possuir uma aura muito forte, carregada de sensualidade, capaz de enlouquecer qualquer um; ela poderia parecer uma mulher comum numa simples foto, mas a sua presença inconfundível sentia-se a quilómetros... Ele era um qualquer e, como tal, estava louco por ela... Ele era comprometido, mas o perfume dela toldava-lhe a mente, o espírito - ela inclinou ligeiramente o pescoço e, num tom provocador, perguntou "Cheiro bem?"; as imagens dele a beijar-lhe furiosamente a sua pele apetecível inundaram-lhe o pensamento à velocidade relâmpago! Mas controlou-se e respondeu apenas "Optimamente...", engolindo em seco... Pouco tempo depois já não estava preocupado em controlar-se; a sua única preocupação era saber se ela lhe despertava esses sentimentos inocente, maliciosa ou intencionalmente. Salivou até ao final do dia; fez insinuações e perguntou-se se as acções dela teriam o mesmo significado, o resultado foi inconclusivo; acabou por ficar na defensiva. O tempo passou e foi cada um para seu lado. Enquanto esperava pelos transportes sentiu-se desconfortável e vazio; metade do percurso esteve apático, mudo e, olhando o infinito, tentou conformar-se da desilusão; no resto do caminho o vazio foi preenchido por desepero e raiva - sentiu raiva de si próprio por ter sido tão cobarde, por ter deixado passar a oportunidade, por ter ficado na incerteza. Ficou assim por mais uns momentos, deitado na cama, fixado no televisor apagado. O desconforto acabou por passar; a paixão desvaneceu-se e ressurgiram os velhos sentimentos, menos intensos, mas mais seguros, fortes e sedimentados. Nesse momento quase chorou de arrependimento, todavia acabou por se sentir feliz visto que, no fundo, nada tinha de que se arrepender. "Foi melhor assim...", pensou e, em seguida, fechou os olhos. Sentiu uma última vez a aura do seu amor platónico, despediu-se dele com saudade e apagou definitivamente essa imagem da sua mente. A imagem da sua cara-metade substituiu a anterior, ocupou o seu devido lugar: como era linda! Sorriu-lhe e pediu desculpa, Acabou por adormecer sentindo-se bem, satisfeito por possuir uma das qualidades que mais contribuem para a fidelidade de uma relação amorosa: a cobardia...

1 Comments:

At quarta-feira, junho 22, 2005 8:10:00 da tarde, Blogger Maggie said...

No amor como na guerra os cobardes safam-se sempre...
Mais vale um fiel cobarde do que um bastardo arrojado

 

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